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Review Fear the Walking Dead S04E08 – No One’s Gone: Orgânico, mas desrespeitoso

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Atenção! Este conteúdo contém SPOILERS do oitavo episódio, S04E08 – “No One’s Gone”, da quarta temporada de Fear the Walking Dead. Caso ainda não tenha assistido, não continue. Você foi avisado!

Após assistir o episódio de meio de temporada, Fear the Walking Dead traz um enredo final aos mistérios envolvendo a queda da represa, a continuidade da destruição do Diamond e o destino de Madison. Com uma história coesa e completa, Fear demonstra seu potencial em não se apegar em personagens e a sua necessidade de se afastar o máximo possível daquilo que foi nas três primeiras temporadas. Com uma funcionalidade totalmente orgânica – que diverge da série mãe – e por vezes poética, a série derivada da franquia The Walking Dead demonstra o quão válidos ainda são os sentimentos humanos.

Entretanto, com um ar de total bipolaridade, a trama desrespeita o público e os personagens quando há uma análise da totalidade de suas temporadas. Como um episódio isolado, “No One’s Gone” é totalmente artístico e bem apresentado; como parte de uma série em seu quarto ano é um episódio que coloca uma pedra sobre tudo o que entendíamos ser Fear the Walking Dead.

A história se inicia com um flashback do período em que antecede a chegada ao Diamond, quando Madison ainda buscava pelos seus entes queridos após a queda da represa. A grande primeira surpresa é revelada quando descobrimos que Madison e Althea já haviam se cruzado nesse período. Madison estava totalmente disposta a encontrar seus familiares e aliados novamente e estava disposta a acabar com a vida da jornalista caso ela se colocasse em seu caminho.

Mais tarde, as duas acabam cooperando uma com a outra, quando Madison revela que a única coisa que realmente importa para ela é construir um local para seus filhos em que eles não necessitem perder a essência humana para continuar vivendo. Convencendo Al de que aquela é sua verdade, Madison – que não revela seu nome a estranha – sai em busca de seus filhos.

No fim, ela os encontra junto a Strand e Luciana e os leva para ver algo que ela achou – o Diamond. Ocorre que esse desfecho diverge das explicações de Strand no episódio seis da atual temporada. Naquele episódio, Victor fala que Madison foi quem reuniu eles novamente, encontrando um a um e os mantendo em uma caverna, local onde ela curou suas feridas e posteriormente foi em busca de Luciana – que estava desaparecida desde quando fugiu do Rancho Otto. Então algum desencontro existe na história demonstrada no episódio, já que as informações dadas não colidem com os fatos apresentados e nada explica o como Luciana encontrou o grupo novamente – e a total ausência de surpresa de Madison ao rever a mulher que havia sumido a tanto tempo quando a reencontrou junto com seus outros familiares.

Tudo bem, a explicação pode ser de que eles passaram por tudo o que Victor relatou e depois acabaram se separando novamente e é nesse viés que Madison encontra Althea e conta sua história. Mas daí a pergunta se torna: por que Madison estava tão desesperada em saber se Althea havia encontrado seus filhos? Quanto tempo se passou e quanto tempo Madison sobreviveu sozinha até reencontrá-los?

No presente, Althea, Naomi – que não é Naomi e nem Laura -, Morgan e a garota Poltergeist (Charlie, para os mais íntimos) lutam pela sobrevivência de John, que está em uma tênue linha entre a vida e a morte. Quando a enfermeira e Morgan conseguem romper a barreira de infectados que os impedia de ter acesso à enfermaria, Alicia chega ao local com Luciana e Strand quase atingindo os dois. A troca de tiros fica intensa, tendo o trio de antigos personagens contra Althea que tenta defender Morgan e Naomi/Laura/June.

Como um ser invisível e intocável pelos infectados, Alicia chega até o carro da jornalista e as duas se prendem em uma troca de socos infindáveis, até que – depois de Alicia quase entregar a vida de Althea nas mãos de centenas de mortos, caixas de comida coreana caem sobre a jovem Clark e então ela tem um estalo em sua mente e lembra que quando a mãe os localizou havia falado que encontrou alguém na estrada que lhe deu uma ajuda (ou seja, comida coreana). Alicia vasculha a caixa de Althea e encontra uma fita nomeada de Amina (apelido dado por ela e seu irmão ao local onde passaram férias na montanha com os pais quando criança).

Alicia perdoa a todos – até mesmo o Lúcifer mirim, exceto Naomi. Ela vai até o local que a enfermeira e Morgan estão e tenta convencer o mestre do aikido que precisa acabar com a vida de Naomi, por ela ser responsável pela morte de Madison – pela primeira vez na temporada isso é vociferado. Morgan, ao fim, consegue convencer a garota de que esse mesmo sentimento foi responsável por dar fim à vida de Nick e que se ela seguisse por esse caminho, desrespeitaria a memória da mãe.

A cena final é de todos sentados em volta de uma árvore para ouvirem como a história de Madison finalmente acabou. Alicia, Strand e Luciana contam que após a confusão no estádio, Madison em um ato heroico conduziu todos os infectados para dentro do Diamond e lá morreu, para dar oportunidade dos filhos de sobreviverem. Madison morreu porque queria que os filhos continuassem a lutar e porque não suportaria mais uma vez ver todo o seu esforço de construir um lugar de tranquilidade ser derrubado.

Seria estupendo se não fosse como foi. Eu já havia falado que uma das coisas que mais me frustrariam na história inovadora que Fear parecia estar construindo nessa temporada seria que ela tivesse um desfecho mainstream, óbvio e que a morte da protagonista só seria aceitável se fosse de forma totalmente fora do convencional e esperado. Mas não foi. Mais uma vez utilizaram o artifício dramático da mãe que faz de tudo por seus filhos – não estou aqui dizendo que mães não agiriam dessa forma, mas que a previsibilidade é totalmente desnecessária dentro de um mundo pós-apocalíptico ficcional.

A morte da protagonista não simplesmente traz um reboot como os produtores falaram que queriam dar à série – que a meu ver não necessitava de nenhuma alteração, pois o que lhe fazia ser aceita era o fato de seu enredo se afastar totalmente da história de The Walking Dead, mas destrói totalmente o que Fear foi até hoje. Não apenas porque Madison era a protagonista, mas porque em menos de quatro temporadas nós perdemos todos os núcleos principais da série. A família Clark, Manawa e Salazar estão dizimadas – dessas três famílias sobraram apenas Alicia e Daniel que segue desaparecido. Não há qualquer referencial para se seguir em frente.

Se fosse necessária a morte de alguém importante dentro da temática e sabendo que Nick morreria por pedido do interprete, porque não simplesmente o carregaram até o oitavo episódio no mistério e o mataram no lugar de Madison, já que agora as duas mortes são totalmente desonrosas ao sacrifício da matriarca? Kim (atriz que protagonizava a série até então) não tem nenhum trabalho à vista e sua saída da série foi simplesmente porque os showrunners e produtores da série – entre eles Gimple, o mesmo responsável pela morte de Carl – decidiram que precisavam fazer uma nova história para Fear e que Madison seria o maior dos empecilhos.

Há uma injustiça gigantesca com a protagonista de todas as temporadas. Seja Madison aceita ou não pelos fãs da série há de haver consonância com o fato de que jogar para o descarte uma personagem que simplesmente desencarrilhou todos os grandes enredos da série é pequeno para aquilo que Fear poderia oferecer. É injusto com a própria série, uma vez que a única similaridade que se mantém é o nome, pois Madison dava cara às três primeiras temporadas. O protagonista é quem caracteriza a história e mata-lo prematuramente (estamos falando de uma quarta temporada, que é pouco comparado ao planejamento de dez temporadas para a derivada de The Walking Dead) é totalmente utópico e dissonante.

Scott Gimple fez mais uma vez um desserviço ao mundo de Kirkman. Começou ao matar Carl na série mãe e agora coloca a mão para afundar a série derivada. Alguém precisa parar esse homem, pois as manobras que ele está fazendo para dar reviravoltas nas histórias são desonrosas e acabam por desanimar a audiência. Ou seja, não atrai novo público e afasta aqueles que acompanhavam.

Esperamos nove semanas (contando com o domingo que não tivemos episódio) para descobrirmos algo óbvio que poderia ser contado rapidamente, já que Madison morreu por algo tão convencional. Quando se faz todo esse suspense, o mínimo que se espera do enredo final é que ele traga uma novidade totalmente surpreendente para o público, mas a surpresa de trazer algo óbvio foi falha e desanimadora.

Fear era rica porque lidava com os sentimentos humanos, já que estavam quase todos em família. Diferente de The Walking Dead que é um ajuntamento de órfãos e excluídos, Fear trabalhava em um ramo dramático em que o amor pelo próximo era sempre o empecilho. A partir de agora, por não termos nenhuma família mais em cena não veremos mais o sentimentalismo e Fear está propensa a se tornar uma cópia da série mãe, que vem errando em sua fórmula, onde as pessoas não possuem qualquer sentimento uns pelos outros e a morte se torna esquecível de forma rápida e rasteira. Tiraram de Fear aquilo que a fazia diferente e lhe dava possibilidades de ser superior à mãe.

E você? O que pensa sobre o destino dado a Madison e sobre o futuro de Fear? Tem um pensamento diferente do que foi exposto aqui? Concorda? Deixe seu comentário, será um prazer iniciarmos uma discussão amistosa com você.

Fear the Walking Dead retorna com a segunda parte da 4ª temporada em 12 de Agosto no AMC Brasil. Consulte sua operadora de TV para mais informações.

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