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Fear the Walking Dead: Viver e não morrer em Los Angeles

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Nos bastidores da nova “prequel” Fear the Walking Dead, uma mãe, seu filho e seu namorado estão presos na cabine de uma camionete Ford toda batida, aterrorizados porque algo não cheira muito bem na cidade deles.

Após a camionete derrapar para fora de um túnel para dentro do Rio Los Angeles, a mãe tenta freneticamente chamar seu outro filho, enquanto o adolescente carrancudo gira o botão do rádio, buscando informações sem sucesso sobre as cenas perturbadores que eles presenciaram.

“Ninguém está falando sobre isso,” ele diz descrente. “Ninguém está falando nada.”

The Walking Dead tem mais de 20 milhões de espectadores semanais, e essa série paralela permite que a emissora mergulhe novamente em sua enorme e devotada base de fãs, desta vez com um drama familiar sombrio. Ela vai explorar algumas das mesmas ideias de sobrevivência e natureza humana, mas também buscar o seu próprio nicho temático.

A nova série vai fazer da Los Angels urbana e árida um novo personagem, não as paisagens rurais e pantanosas da Geórgia e da Virgínia. E em vez de se iniciar já em quatro ou cinco semanas adentro da epidemia, ela vai mostrar um mundo no início do confronto de uma revelação avassaladora.

“Acho que acima de tudo, Fear the Walking Dead vai poder mostrar as pessoas se deparando com a sociedade desmoronando a sua volta de uma forma que acabamos não explorando em The Walking Dead,” disse Robert Kirkman, o criador de ambas as séries e dos quadrinhos de The Walking Dead.

A série não vem sem riscos para os criadores e para a AMC, que gostaria de adicionar mais destaques dignos de furor para uma grade que já não tem mais “Mad Men” e “Breaking Bad”. Ao contrário da série principal, não há quadrinhos ditando um arcabouço estrutural. O passo lento cuidadosamente calibrado no terror poderia alienar fãs em potencial que preferem mais carnificina zumbi. E spinoffs que não compartilham nenhum dos personagens ou que não são variações do formato policial testado e aprovado são extremamente raros na história da TV.

“Se este funcionar, vai ser o primeiro na minha experiência com televisão,” disse Tim Brooks, um ex-executivo da NBC, USA Networks e Lifetime Television, e o co-autor de “The Complete Directory to Prime Time Network and Cable TV Shows, 1964-Presente.”

A família mista no centro de Fear the Walking Dead está completamente mal preparada para sobreviver neste mundo em mudança.

Kim Dickens (“Deadwood”, “Treme”) faz o papel de Madison, uma conselheira escolar e mãe solteira de dois adolescentes, um viciado (Nick, interpretado por Frank Dillane) e outro é a aparente “filha de ouro” (Alicia, interpretada por Alycia Debnam-Carey). O namorado de Kim, Travis (Cliff Curtis de “Gang Related”), é um professor de literatura inglesa na mesma escola, e ele acabou de se mudar. Mas ele tem um filho desafeto, que não quer fazer parte desta nova e rígida família e acabou ficando com sua mãe (Elizabeth Rodriguez de “Orange is the New Black”).

“É algo bem focado em dois pais que estão tentando unir todo mundo sob um só teto e protege-los,” disse o showrunner, Dave Erickson, no café da manhã em Los Angeles no meio de Julho. “Os zumbis acabam sendo algo agradavelmente novo.”

Os infectados não se parecem com os monstros apodrecidos ainda. Eles estão todos mais frescos, ainda lembrando os colegas que você viu no trabalho no dia anterior, os familiares com quem você acabou de jantar. Mas agora eles querem rasgar seu pescoço. “É algo que abala,” soltou o Sr. Erickson.

“Seu primeiro impulso é o de ajudá-los, e logo depois, correr,” ele adicionou. “Não é o de pegar uma arma e golpeá-los na cabeça até a morte.”

Um apocalipse em iminência era território conhecido para o Sr. Erickson. Ele havia escrito o piloto para um drama familiar baseado em um tratamento do Sr. Kirkman chamado “Five Year”. O ponto em destaque: Há um meteoro a caminho, você sabe que tem cinco anos até a chegada dele, o que você faz no seu tempo antes que o mundo acabe?

Os dois caras curtiram trabalhar juntos – exceto pela parte em que a série não foi lançada – e mantiveram contato ao longo dos anos. Esforços para trazer os Sr. Erickson até a sala de roteiristas de The Walking Dead nunca funcionaram. Mas quando Kirkman o contatou no final de 2013 para uma colaboração em uma série paralela de The Walking Dead, a sincronia foi perfeita.

AMC finalmente estava pronta para capitalizar com seu maior sucesso. Charlie Collier, o presidente e gerente geral da AMC e da Sundance TV, disse que a pergunta que mais ouve desde que The Walking Dead estreou é o que está acontecendo nos outros lugares durante o apocalipse. Mas apesar de a possibilidade de um spinoff já pronto sobre Walking Dead acontecer desde o início, a ideia nunca progrediu muito além de vagas discussões, mesmo com The Talking Dead, o programa ao vivo da AMC que disseca cada episódio, exibindo números estarrecedores. (A temporada mais recente atraiu uma média de 6,5 milhões de espectadores, de acordo com Nielsen).

As primeiras temporadas da série principal não foram as mais estáveis – ou seguras – para seus mestres de criação. Frank Darabont (“The Shawshark Redemption”), que desenvolveu a série, foi tirado do cargo de showrunner algumas semanas após o início da segunda temporada. Seu substituto, Glen Mazzara, saiu depois da terceira temporada. Mas com um novo showrunner, Scott M. Gimple, se fixando e as tensões se acalmando, a AMC e Kirkman iniciaram a criação de uma série paralela.

As duas séries cabem sob o mesmo guarda-chuvas mitológico criado por Kirkman em sua série de quadrinhos, com as mesmas regras governando o tipo de zumbis (o tipo perambulante) e como mata-los (esfaqueando, atirando ou esmagando suas cabeças).

Os personagens não sabem das coisas, no início, sobre o que estão enfrentando, e os atores foram encorajados em sua ignorância.

Conforme as entrevistas se aproximavam, a Dickens perguntou aos produtores que episódios de The Walking Dead ela deveria assistir para entender a nova série. A reposta: nenhum.

“Sinto-me melhor assim,” ela disse em um intervalo entre cenas em um domingo nos meados de Julho, com sangue falso aplicado ao lado esquerdo do rosto, pescoço e casaco. “Não quero isso na minha cabeça, nenhuma ideia de como as coisas devem parecer, do apocalipse, ou dos monstros, ou dos infectados, ou do próprio mundo. Deveria ser mais um mistério para mim.”

O público, provavelmente formado por fãs de The Walking Dead, vai estar muitos passos a frente dos novos personagens, que estão apenas lentamente acordando para o terror que os aguarda. E os criadores têm abraçado esse estado de relacionamento de forma alegre, e talvez um pouco sarcástica, ao aumentar a tensão e brincar com as expectativas.

“Para mim, é divertido provocar o público, e acho que o público meio que gosta de ser provocado,” disse Adam Davidson, um coprodutor executivo em Fear the Walking Dead que dirigiu os primeiros três episódios.

As maiores diferenças entre as duas séries, contudo, está nos protagonistas.

Em Fear the Walking Dead, não há ninguém como o xerife Rick Grimes, que costumava responder a emergências e facilidade com armas de fogo. Em vez disso, temos professores e conselheiros e estudantes e barbeiros.

Erickson disse que quando Kirkman descreveu a ideia pela primeira vez para a nova série, com Madison e Travis trabalhando em uma escola em Los Angeles, a única coisa que ele requisitou era poder levar sua própria bagagem pessoal para a sala dos roteiristas. Um pai divorciado com dois filhos (13 e 15), com uma noiva que tem dois filhos, Erickson ligou a ideia de introduzir as fissuras em uma dinâmica familiar, e então usar o apocalipse zumbi para aumentar essas tensões em uma escala ainda mais épica.

Seus filhos vêm em primeiro lugar? E se seus filhos biológicos se tornarem um fardo muito grande, você se desfaz do elo mais fraco para que o resto do grupo sobreviva?

O cenário de Los Angeles também permitiu que Fear the Walking Dead mostrasse um lado mais arenoso da cidade que tipicamente não vemos nas telas. Os criadores prometem que nunca veremos o letreiro de Hollywood ou zumbis passando pelo Griffith Observatory.

Os personagens principais vivem em El Sereno, um dos bairros mais velhos de Los Angeles e um dos mais diversificados. O elenco reflete a diversidade da cidade. A personagem da Srta. Rodriguez, ex-esposa de Travis, foi reimaginada como Latina após a atriz interpretar o papel, ela disse. Travis foi originalmente escrito como Latino, mas isso mudou para que Maori refletisse a hereditariedade de Curtis.

E Fear the Walking Dead pontualmente explora a experiência imigrante por meio do personagem de Ruben Blades, um barbeiro chamado Daniel Salazar, que fugiu de El Salvador no início dos anos 1980. “Pessoas que vêm para cá têm muitos motivos diferentes,” disse Gale Anne Hurd, uma produtora executiva das duas séries de Walking Dead. Alguns deles estão escapando da violência em seus países de origem, querem recomeçar e Los Angeles é uma cidade para o renascimento, é uma cidade de reinvenção.

Sendo uma série de Walking Dead, os espectadores virão com expectativas de violência – quanto mais nojento melhor. Enquanto alguns dos produtores insinuam em relatos que o sangue tem um papel marginal no sucesso de The Walking Dead, Erickson entende que as armadilhas do gênero zumbi são elementos chave na equação. Afinal, o terreno televisivo é dotado de diversos dramas com personagens bem escritos que se focam em excessos e têm 20 milhões de espectadores por semana.

O ajuste fino da mistura certa de desenvolvimento de personagem e violência zumbi é um dos desafios que ele e seus colegas enfrentam. Particularmente porque a primeira temporada de Fear the Walking Dead tem um ritmo mais lento, contando que os zumbis evoluem lentamente e os roteiristas elevam a paranoia.

O sucesso enorme de The Walking Dead – apenas The Big Bang Theory e N.C.I.S. conseguem audiências maiores, e nenhuma série atrai mais pessoas de 18 a 49 anos que não estejam cheias de propagandas – também traz consigo esperanças de públicos enormes em número. Mas Fear the Walking Dead está se aventurando em um território não testado. A maioria dos spinoffs traz algum personagem do original (“Frasier” de Cheers, ou “Better Call Saul de Breaking Bad da própria AMC ou são clones de práticas policiais (“N.C.I.S.: Los Angeles”), não um drama de personagens seriados. E não há planos pra colocar personagens das duas séries em contato.

“Seria certamente uma boa mini-série,” disse Brooks, o ex-executivo de TV. “Seria um bom filme. Vai se tornar uma série que se estenda por algum tempo? É nesse momento que precisamos ter personagens que as pessoas querem voltar a ver. É a parte mais difícil.”

Já com a autorização para a segunda temporada de 15 episódios, a AMC parece confiante do sucesso potencial da série. Enquanto isso, Erickson se unirá em breve aos roteiristas para fechar as histórias que estão por vir antes do retorno das filmagens da série em Novembro.

Onde quer que Madison, Travis e sua família misturada e estendida se encontrem na próxima temporada, em Los Angeles, em outro lugar da Califórnia ou ao longo da costa Noroeste do Pacífico, eventualmente Erickson gostaria que os sobreviventes fossem rumo ao leste.

“Em algum momento, vou achar interessante a ideia de rumar para o interior do país,” disse Erickson. “Uma expedição Lewis e Clark, ao contrário.”

Fear the Walking Dead estreia mundialmente em 23 de agosto pela AMC. Confira o trailer oficial da temporada e fique por dentro de todas as notícias.

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Fonte: The New York Times
Tradução: @Felipe Tolentino / Staff Fear The Walking Dead Brasil

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