Entrevistas

Dave Erickson fala sobre o passado de Daniel e o que esperar do final da 1ª temporada de Fear the Walking Dead

Publicado há

em


ATENÇÃO: Esta matéria contém spoilers do quinto episódio da primeira temporada de Fear the Walking Dead, S01E05 – “Cobalt” (Operação Cobalt). Leia por sua conta e risco. Você foi avisado.

No penúltimo episódio dessa temporada aconteceram algumas coisas graves para os sobreviventes do apocalipse nesse final de temporada. A obra de Daniel Salazar levou a uma informação crucial, sem a qual ele e o resto dos moradores da casa de Madison Clark seriam certamente condenados sem qualquer aviso.

Mas essa pista será suficiente para Daniel, Madison e Travis planejarem algo antes da iminente evacuação? Será que Liza e Nick se reunirão com suas famílias antes de “Cobalt” acontecer? Quem é Strand, aquele cara que fala rápido que está na cela do governo e salvou a vida de Nick, e qual seu plano? E quão fantástica foi a narrativa – e performance de Rubén Blades – que finalmente desvendou o passado de Daniel?

O showrunner de Fear the Walking Dead, Dave Erickson, discutiu sobre isso e muito mais, incluindo várias dicas sobre o episódio final e sobre a segunda temporada.

Vamos começar pelo final, com algo atrás das portas batendo aonde Daniel chegou. É a mesma instalação onde a unidade médica se encontra, onde Nick está preso?

Dave Erickson: A geografia de tudo ficará bem mais clara no episódio final. Na última cena com Adams, antes de Travis e Madison chegarem, ele fala sobre uma arena onde ele foi guarda e as pessoas começaram a se transformar. Ele diz que tinham 2 mil pessoas, e “não dava pra saber quem estava doente e quem não estava… Nós corremos, e depois trancamos as portas. Foi isso que eu fiz.” Ele está descrevendo um evento que participou, algo que teria acontecido há uns bons 7 dias (antes). Acho que Daniel foi checar se esse lugar realmente existia. Nós descobriremos exatamente o que acontecerá entre os militares e a vizinhança no próximo episódio.

Então não é o mesmo lugar onde Liza…

Dave Erickson: Exatamente, não é o mesmo lugar. Teremos um entendimento sobre isso logo.

A propósito, Daniel é muito durão; esse episódio foi muito incrível para ele. Nós esperando para saber mais sobre o porquê ele sabe tanto sobre como o governo vai operar.

Dave Erickson: David Wiener mandou muito bem escrevendo esse episódio. É sempre complicado quando você lida com tortura. Acho que ele escreveu aquela sequencia com muita sutileza, achei que ficou verdadeira e com grande sutileza e tristeza. Daniel definitivamente não estava gostando do que tem que fazer. Ele simpatiza de uma maneira estranha com a pessoa que está vitimando. É um estranho tipo de dança.

O que temos agora é uma filha, Ofelia, percebendo que apesar de todas as histórias que seus pais a contaram sobre a guerra e a violência serem verdade, eles não a contaram de qual lado o Daniel estava. Isso é algo que será instrumental no decorrer da relação deles. Você tem uma situação onde a filha terá que depender de seu pai, e um pai que terá que reconquistar sua confiança. Isso é a única coisa pura em sua vida, como ele descreve para Adams. Ele é durão, com certeza. Muita coisa ainda está para acontecer.

Psicologicamente, isso é bem poderoso também. Quando Daniel está contando a Adams sobre como Ofelia o atraiu até lá, que ela pensou que ele deixaria Adams sair eventualmente… “Isso não acontecerá”, ele diz. Essa é uma fala bem pesada, mas como você disse, Daniel não está gostando disso. Ele só está sendo honesto, isso que ele precisa fazer para obter informações que precisa para sobreviver, e ele aceita isso.

Dave Erickson: Ele também descreve o que está fazendo. Ele descreve onde os nervos são mais sensíveis. Está tudo exposto, literalmente, porque ele coloca as lâminas na sua frente. Depois ele meio que descreve porque isso dói tanto.

É interessante… a sequência clássica de tortura, eu acho, é Marathon Man, de Dustin Hoffman e Laurence Olivier. Aquilo é frieza. Há uma coisa estranha sobre essas cenas, e como elas são escritas… é uma estranha intimidade. Você pode dizer que a cena de Marathon Man é bem fria, horrível. É uma vibe bem estranha, surreal, quase um calor, que funciona muito, muito bem nessas cenas.

Uma das coisas mais importantes desse episódio é os dois caminhos diferentes que Madison e Travis vêm seguindo e continuarão seguindo. Quando a Guarda Nacional levou Nick e Griselda e Liza foi com eles, eles queriam suas famílias de volta. Temos Travis, que está tentando fazer isso por meio de canais, essencialmente. Ele não confia mais em Moyers porque viu os flashes na noite anterior. Ele sabe que a informação que ele deu talvez tenha causado a morte de alguém. Ele definitivamente se aproxima de Moyers com uma grande dose de desconfiança e apreensão. Mas, para ele, esse é o único jeito. É o único caminho que precisa tentar e descobrir o que aconteceu com seu povo. Ele se aproxima cuidadosamente, mas pela primeira vez ameaça Moyers. Ele sugere que se Moyers não lidar com isso apropriadamente, muitas pessoas ficarão tristes ali.

Por outro lado, temos Madison percebendo que Daniel vai torturar esse jovem homem da Guarda Nacional. Ela está bem com esse fato. Bem, ela não está bem com isso, mas está disposta a fazer vista grossa. Quando Travis volta depois de seu dia terrível e Ofelia diz a ele o que está acontecendo, sua principal preocupação naquele momento é “Madison sabe disso? É isso que você é? Você realmente deixou isso acontecer?” O que é uma dúvida válida para o mundo pré-apocaliptico, e agora é claro que ela deixa isso acontecer porque é o único jeito de tentar pegar seu filho de volta.

E Travis ainda não precisou fazer o que ela fez em “So Close, Yet So Far”, quando teve que matar seu amigo e colega de trabalho Art.

Dave Erickson: Exatamente. Emocionalmente, há inúmeras coisas, para Madison em específico, nós referimos a um passado meio sombrio para ela no piloto. Quando ela fala sobre a angústia de Nick, quando anda pela galeria e fala que é um lugar violento… na minha mente, ela está falando sobre o espaço que se encontra, mas também imaginando ou revivendo algum lugar que já esteve antes, ela tem muita bagagem.

Acho que ela está traumatizada com o que teve que fazer com Arty, e ela não falou sobre isso. Quando ela saiu para matar a Sra. Tran e Travis a confrontou dizendo “Nós não sabemos” isso a destrói. O que isso a faz tornar se de repente uma cura se manifestar e todos podem ficar bem? Essa foi a mesma pergunta que caiu para Travis nesse episódio, quando eles pararam e viram aquela garçonete. Moyers diz que não é uma pessoa. Tenho certeza que houve alguns chutes e gritos na escolha de Travis.

Acho que seu personagem em particular é essa pessoa que desesperadamente se agarra em sua humanidade. É importante colocar na cabeça que ninguém nesse programa já viu The Walking Dead. Nós estamos no 12º dia do apocalipse, e tirando a exposição inicial que nossa família teve nos primeiros episódios, ficamos atrás de grades, supostamente com alguém nos cuidando, enquanto a Guarda Nacional ganha essa guerra contra o surto. Travis claramente não está no ponto onde é capaz de apertar o gatilho. Isso é algo que ele tem que lutar, e algo que teremos que lidar no episódio final e na segunda temporada até certo ponto. Há uma virada chegando.

No centro médico, quando Liza finalmente encontra Griselda, ela está quase morrendo. A quem Griselda se referia no seu raivoso discurso final? Era para Daniel, ou para alguma situação ou pessoa de sua vida?

Dave Erickson: Acho que é sobre sua relação não só com Daniel, mas com Deus. Eu realmente gosto da ideia de pessoas tentando interpretar isso como quiserem. Não, ela não está falando sobre Daniel; ela fala sobre algo bem maior que isso.

Quando Daniel e Ofelia descobrirem sobre Griselda, isso vai alterar seus esforços para continuar vivendo?

Dave Erickson: Daniel é muito fatalista. Acho que o fato de que ele estava disposto a deixar Griselda ir ao complexo militar mostra como ele estava desesperado, e como ele sabia que ela estava relativamente perto da morte. Quando eles descobrirem o que aconteceu, acho que vai quebrar ele profundamente. Mas não sei se ele ficará surpreso. Ele disse: “Quando as pessoas são levadas em caminhonetes, basicamente não termina bem.” Acho que sua esperança nesse ponto é mais sobre preservar qualquer esperança que Ofelia tenha.

Acabei de perceber algo: ele está usando seu kit de barbear no Adams?

Dave Erickson: Sim.

Isso foi uma das coisas que ele pegou quando abandonaram sua barbearia no centro da cidade.

Dave Erickson: Ele levou isso. Em nossas mentes, esse velho kit de barbearia pertencia ao seu pai. Não acho que era algo que ele usou em El Salvador para torturar pessoas, mas que seu pai era um barbeiro, e isso que ele faria se estivesse na guerra de El Salvador, era onde ele faria seu dinheiro. Então sim, ele levou o kit com ele.

Há algum significado para o plano de evacuação se chamar “Cobalt”?

Dave Erickson: É chamado assim porque por um período, o codinome de Fear the Walking Dead era “Cobalt”. Quando cheguei pela primeira vez no programa, a AMC se referia a Fear como “Cobalt” para manter segredo, então foi mais uma piada para nós.

O cara na grade atormentando o coitado do Doug sobre a “Sra. Doug”: Quem é ele? Um vigarista? Ele fala muito rápido. Tem coisas muito boas, está bem vestido, e menciona Las Vegas.

Dave Erickson: Colman Domingo interpreta Victor Strand, e ele fala bem rápido e é autossuficiente. Vamos perceber de alguma maneira que grandes capitães da indústria tendem a ser um pouco sociopatas. Acho que o que ele faz com Doug é controlar o ambiente e as situações que ele se encontra. Doug, como já estabelecemos, não é equilibrado, é emocionalmente perturbado. Acho que Strand vê Doug como alguém que vai chamar atenção para essa área em particular, e ele não quer fazer isso, acho que ele só o acha irritante.

Sua habilidade para quebrar ele… é quase como se ele quisesse manter suas habilidades. Isso é um exercício para ele para que possa manter sua execução e sua habilidade. Veremos mais de seu interesse em Nick no decorrer da próxima temporada. Ele é legítimo pelo menos. Veremos que ele é um indivíduo próspero e possui recursos que podem ou não ser úteis. Ele desenvolverá uma relação com Nick, ele vê algo em Nick que acha que vale a pena. É provavelmente a primeira vez que qualquer um viu algo em Nick assim. Acho que é bem surpreendente que essa pessoa está disposta a protegê-lo por razões ainda desconhecidas.

Também, em termos do mundo socioeconômico de The Walking Dead, não é sempre que vemos pessoas ricas, há algo atraente para nós sobre a introdução de um personagem que tinha muito antes de sofrer a queda. Vamos perceber que ele foi preso porque estava no lugar errado na hora errada, provavelmente porque estava de olho no mercado financeiro e imobiliário, eles vão quebrar e há uma oportunidade de fazer negócios quando tudo ficar limpo. Ele é um cara bem pragmático, muito esperto, e se tornará uma nova adição para nossa grande família misturada.

Então ele definitivamente vai ficar por perto por um tempo?

Dave Erickson: Sim.

Esse é provavelmente um dos últimos pontos onde itens de luxo, como relógios caros e abotoaduras de diamante, ainda valem algo. Vimos Chris e Alicia saqueando a casa de “pessoas ricas”. Eles já reconhecem que lustres e vestidos chiques não significam muito. Em The Walking Dead, uma lata de feijão e um abridor de lata são bem mais valiosos que abotoaduras de diamante.

Dave Erickson: Isso, para mim, é o interessante. Strand é um especialista quando se trata de transporte de moeda – descobrindo o que tem valor e o que não tem. Ele sabe que pode dar seu Rolex porque seu relógio não vai fazer diferença. O guarda provavelmente ainda acha que tudo vai ficar bem em última instância. Ele é distraído por coisas brilhantes. O que aconteceu com Chris e Alicia é também um ato de rebeldia contra o que está acontecendo em volta deles. É bem “Nenhuma dessas coisas importa mais.” A vida que aquela família construiu não é mais importante que a vida que eles construíram em sua casa mais modesta. Tudo está sendo destruído, e acho que eles meio que se juntaram à parada.

Há um pequeno momento deles na casa, onde Alicia está experimentando coisas e Chris a vê e não desvia o olhar imediatamente. Ela não fala pra ele fazer isso. É uma dica de um potencial romance?

Dave Erickson: Nós falamos sobre isso, não vou dizer sim ou não. Acho que há uma coisa meio bizarra entre meia-irmã e meio-irmão, o que provavelmente vamos evitar. Acho que foi um momento inocente, e houve um certo flerte nisso. Mas eles só têm um ou dois anos de diferença de idade, acho que ela é bem mais mundana, muito mais avançada de pensamento que ele. Ele é um irmão muito leal nesse ponto, que quer fazer o certo para ela, e veremos mais disso no episódio final da temporada. Quem sabe? Nunca diga nunca.

De volta a Moyers. Ele teve a intenção de levar Travis a Exner, ou foi só um artifício para levar Travis para fora da zona de segurança e dar a ele o gosto de o que está acontecendo de verdade?

Dave Erickson: Acho que ele teve alguma intenção com isso. A realidade foi quando eles pararam porque viram Kimberly na loja de donnuts, acho que Moyers viu isso como uma oportunidade de aprendizado. Travis é um desafio como personagem para alguns espectadores, porque ele não chegou no ponto onde precisa pegar a arma imediatamente para matar zumbis. Isso é, em larga escala, o que a morte de Kimberly foi. Para um personagem que se prende em sua humanidade desesperadamente, agora tem uma situação onde a arma está lá, o zumbi está lá, tem dois soldados o dizendo basicamente que a garçonete não é uma pessoa, e se você acha que é uma pessoa, significa que são assassinos. O fato do problema é que quando ele recusa a apertar o gatilho, ele está basicamente dizendo “Sim, acho que talvez sejamos assassinos.”

Como eu disse antes, Travis nunca assistiu The Walking Dead. Nós estamos há 12 dias no apocalipse. Não acho que é razoável se estamos tentando tornar esse processo o mais realista possível. Não é razoável especialmente quando você foi exposto a isso por somente dois dias e depois ficou atrás de grades por nove dias… Travis se agarrou constantemente no que o faz humano e isso vai custar, já custou até agora e provavelmente vai continuar custando.

Moyers estava fazendo um favor a Travis, com seu jeito agressivo, expondo ele a algumas realidades do mundo fora da zona de segurança?

Dave Erickson: Acho que até certo ponto Moyers vê isso como o que é: uma guerra. Ele tem sua companhia que não tem experiência, ele diz: “Eles são crianças”. Muitos soldados e muitos dos guardas e mulheres não estão acostumados a isso. Ele está tentando manter alguma coesão e manter todos encurralados da melhor forma possível, mas também é incrivelmente difícil com seus homens como um líder. Provavelmente até demais, porque como vimos, há um tipo de rebelião contra ele. Para ele, acho que é importante que pelo menos tente fazer Travis entender o que isso realmente é.

Você disse algo sobre rebelião entre seus homens. Não foi um acidente que Moyers não saiu daquele prédio, mas seus homens saíram?

Dave Erickson: Vou deixar isso pra audiência decidir. Posso dizer que amo trabalhar com Jamie McShane, que interpreta Moyers. Trabalhei com ele em Sons of Anarchy, e ele está agora em Bloodline. Ele veio me falando “Nunca verão o corpo de Moyers. Então quem sabe? Talvez eu não esteja morto.” Claramente, ele estava comandando esses caras bem duramente, e está bem desconectado com o que seus homens estão passando emocionalmente – ou ele entende isso e não se importa. Ele pode entender isso, mas eles são soldados e não podem desobedecer a ordens, ou jogar a arma e ir embora.

Uma pequena prévia da final: É difícil imaginar que seja um episódio com mais ação que esse. O que você pode dizer sobre isso?

Dave Erickson: É um episódio com mais ação que esse. Estamos num lugar onde no final do episódio, nossos personagens não foram capazes de salvar suas famílias. Nick ainda está fora, Liza também… eles ainda não sabem que Griselda morreu. Também termina com Madison e Travis em diferentes lugares emocionalmente. Madison permitiu a tortura de outro ser humano, e Travis… a coisa mais triste para ele é que mesmo estando chocado e traumatizado pelo fato de que sua amada deixou isso acontecer, funcionou. Daniel foi capaz de conseguir a informação que eles precisavam para potencialmente dar os próximos passos indo para o episódio final. Há um pouco de fratura entre nosso casal na final que precisa ser resolvida. Veremos um esforço para juntar suas famílias novamente.

A final da primeira temporada de Fear the Walking Dead vai ao ar hoje, 4 de outubro, às 22h na AMC.

Fiquem ligados aqui no FEAR the Walking Dead Br e em nossas redes sociais @FearWalkingDead (twitter) e FEAR the Walking Dead Brasil (facebook) para ficar por dentro de tudo que rola no universo de Fear the Walking Dead.


Fonte: Yahoo
Tradução: @LaisYes / Staff Fear the Walking Dead Brasil

Comentários

EM ALTA

Sair da versão mobile